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Estudo identifica grupos que provavelmente terão uma fraca resposta imunitária às vacinas contra a Covid-19

Um novo estudo britânico revelou os primeiros dados que indicam que alguns grupos de pessoas com doenças específicas criaram poucos anticorpos contra a doença, após as duas doses da vacina.

Uma vez que os ensaios clínicos das vacinas, geralmente, só recrutam as populações adultas saudáveis, não oferecem uma perspetiva sobre como os grupos de risco podem responder e este estudo, que está a investigar as respostas da vacina contra a covid-19 em indivíduos imunodeprimidos, nasce da necessidade desse esclarecimento.

Assim, no início de 2021 – início da vacinação – o OCTAVE (Ensaio de Observação das células T na produção de anticorpos e na eficácia da vacina contra o SARS-CoV-2) começou a analisar a resposta às vacinas dos doentes imunodeprimidos. Nessa altura, foram testadas mais de 3.000 pessoas de vários subgrupos: doentes renais ou com insuficiência hepática em fase terminal, indivíduos com problemas gastrointestinal em terapia imunossupressora, vasculite, artrite reumatoide, cancro, e doentes submetidos a transplantes de células estaminais.

Publicados na revista científica The Lancet, na última segunda-feira, os primeiros dados do estudo, em que foram analisadas as respostas imunológicas serológicas de 655 indivíduos, concluíram que 40% do grupo gerou respostas baixas depois das duas doses da vacina contra a Covid-19, comparativamente à resposta média em adultos saudáveis, e 11% não geraram quaisquer anticorpos num período de quatro semanas após as duas doses da vacina.

Já no caso dos doentes com anticorpos anti-citoplasma de neutrófilos (ANCA), associados à vasculite – que tomavam, na sua maioria, Rituximab, um medicamento para diminuir os linfócitos B – 90% tiveram pouca resposta imunitária com as vacinas contra a Covid-19. O mesmo aconteceu a 54% dos doentes com artrite reumatoide e a 51% dos indivíduos com insuficiência hepática. Mas há boas notícias: entre os doentes com cancro apenas 17% exibiram uma resposta fraca à vacinação e entre os doentes em hemodiálise 21 por cento.

“Em geral, e como previsto, as pessoas que estão a tomar medicamentos para suprimir as células B responderam menos bem, contudo, outros grupos potencialmente ‘em risco’ responderam bastante bem, o que significa que não estão tão ‘em risco’ como poderíamos ter temido”, salientou Eleanor Riley, uma investigadora de doenças infecciosas da Universidade de Edimburgo (que não está a trabalhar no estudo), citada pela revista online científica New Atlas, acrescentando que “esta informação será muito útil para os clínicos no aconselhamento dos seus pacientes”.

“O lançamento do plano de vacinação foi extremamente importante para estes grupos vulneráveis de pacientes, contudo, devido às suas condições médicas e tratamentos subjacentes, que podem enfraquecer os seus sistemas imunitários, estávamos preocupados que pudessem não receber a proteção ideal, por isso foi, e continua a ser, extremamente importante investigar esta questão sem resposta”, explicou Iain McInnes, que está a liderar o estudo.

A investigação, ainda a decorrer, vai incluir as pessoas imunocomprometidas que já estão a receber doses de reforço.

No entanto, McInnes realça que a percentagem de 60% dos indivíduos a responder de forma eficaz é uma boa notícia e, “embora 40% destes grupos de pessoas clinicamente em risco tenham tido uma resposta imunitária baixa ou indetetável após uma dose dupla da vacina, sentimo-nos encorajados por não ser uma percentagem mais elevada”. “No entanto, é possível que mesmo uma proteção parcial seja clinicamente benéfica e isto é algo que iremos acompanhar de perto”, concluiu a investigadora.

fonte: https://visao.sapo.pt/visaosaude/2021-08-27-estudo-identifica-grupos-que-provavelmente-terao-uma-fraca-resposta-imunitaria-as-vacinas-contra-a-covid-19/