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Covid-19: Temos vacinas suficientes para uma terceira dose?

Se o reforço da imunização abranger apenas os casos com mais vulnerabilidades do sistema imunitário, tudo indica que sim. Resta saber se a tendência será essa

Depois da inoculação de 86 mil jovens, no passado fim-de-semana, e de no próximo, com casa aberta, ser esperado que a cobertura vacinal alcance os 85% – superando o prazo previsto, em outubro – abre-se caminho para acelerar a terceira fase do desconfinamento, com a desmontagem dos hospitais de campanha. 

Com o outono à porta e a variante Delta por debelar, as atenções voltam-se agora para a terceira dose da vacina contra a Covid-19. A acontecer, segundo a ‘task force’, será destinada a casos pontuais. Do grupo de elegíveis farão parte os Infetados com VIH, os transplantados e os doentes oncológicos em tratamento, por terem sistemas imunitários debilitados (totalizando cerca de 100 mil). 

Helder Mota Filipe, Professor de Farmacologia na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, esclarece que “pessoas com cancro vacinados durante o tratamento (radio ou quimioterapia) e doentes que recebem doses elevadas de corticosteróides, por exemplo, não desenvolvem anticorpos de forma normal”. 

Os idosos também são candidatos, numa segunda linha de intervenção, pela maior probabilidade de terem sistemas imunitários com fragilidades. Ao todo, estima-se que o número de elegíveis para a terceira dose fique um pouco acima de um milhão e meio.

Até ser publicada a norma da Direção-Geral da Saúde (DGS), impõe-se a pergunta: Portugal terá doses de reforço suficientes, tendo em conta que a aquisição de vacinas contra o SARS-Cov-2 depende de uma estratégia centralizada a nível europeu? 

O Gabinete da Ministra da Saúde, Marta Temido, informou que “até à data, ocorreram em Portugal entregas relativas às empresas BioNTech/Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen no total de cerca de 17,5 milhões de doses”. Ou seja, um valor que “é, já por si, suficiente para a eventual necessidade de doses suplementares ao esquema vacinal atual”. Além disso, “foram estabelecidos acordos para o ano de 2022 e 2023”.

Entretanto, na Madeira, o presidente do Governo Regional anunciou que não vai esperar para comprar mais vacinas e quer avançar para a terceira toma e chegar ao fim de setembro com 85% da população protegida, tendo por base, talvez, o pano de fundo atual. Mas já lá vamos.

Política, Ciência e Ética

Falando de proteção dos mais vulneráveis num contexto pandémico, atente-se nas declarações do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus: “Não podemos aceitar que os países que já utilizaram a maioria dos fornecimentos das vacinas usem ainda mais, enquanto as populações mais vulneráveis do mundo continuam desprotegidas.” Ou da direção regional da OMS para a Europa, referindo que até 1 de dezembro, as mortes por Covid-19 podem superar a fasquia das 236 mil. 

Israel, que tem um acordo com a Pfizer, anunciou o alargamento universal da terceira dose a partir dos 12 anos, após a administração a pessoas imunodeprimidas e com idades superiores a 60 anos, em julho. Note-se que, segundo as autoridades daquele País, mais de dois milhões já têm o reforço. 

Nos Estados Unidos, o imunologista Anthony Fauci, conselheiro da Casa Branca,  apressou-se a afirmar que “não há dúvida” de que vai mesmo ser precisa uma dose adicional das vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna para combater a variante Delta. No País, de Joe Biden, falta apenas a luz verde por parte da autoridade reguladora do medicamento, a FDA, para estender a medida a todos, a partir de 20 de setembro. 

Num registo mais “moderado”, o executivo do Reino Unido tenciona lançar uma vacina de reforço no início do outono para os mais vulneráveis. Dinamarca e Noruega, que têm uma cobertura vacinal de 72% e 55%, respectivamente, vão igualmente disponibilizar o reforço a quem tenha um risco acrescido de ficar gravemente doente se for infetado, até por terem menos efeitos adversos da vacina do que no caso das pessoas saudáveis. 

Sem novidades por parte do regulador europeu sobre a dose de reforço, importa lembrar que ainda é cedo para ter evidência sólida que fundamente a medida. 

É certo que os resultados preliminares de um estudo divulgado no final de junho no British Medical Journal, confirmaram que o reforço vacinal aumenta a resposta imunológica. Segundo a Universidade de Oxford, a administração após 44 a 45 semanas da segunda dose da vacina para a Covid-19 resultou num aumento expressivo dos anticorpos com menos efeitos adversos. Porém, pode ler-se no mesmo estudo, não há indicação de que o reforço seja necessário. Prioritário, sim, mais uma vez, é garantir a proteção à escala mundial, sob pena de o combate ao SARS-CoV-2 – e variante Delta ou outras mutações do vírus que venham a surgir – não ter fim à vista. 

fonte: https://visao.sapo.pt/visaosaude/2021-09-01-covid-19-temos-vacinas-suficientes-para-uma-terceira-dose/