Mais de 40% da população de Israel, Emirados Árabes Unidos (EAU), Reino Unido, Estados Unidos da América (EUA) e Chile já recebeu pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19. Nos quatro primeiros verifica-se um decréscimo substancial nos números de novos casos e mortes por Covid-19, enquanto no Chile até aumentaram. A explicação para esta disparidade poderá estar no modelo de vacina (mais de 90% das vacinas administradas aos chilenos provieram da farmacêutica chinesa Sinovac), no distanciamento físico entre pessoas, nas variações meteorológicas, entre outros factores.
Colocando de parte micro-estados ou territórios com escassa população (Gibraltar, Ilhas Falkland, Seicheles, etc.), os países do mundo que estão mais adiantados no processo de vacinação contra a Covid-19 são Israel (62,26% da população com pelo menos uma dose de vacina administrada), EAU (51,38% da população), Reino Unido (49,72% da população), EUA (42,15% da população) e Chile (41,61% da população), de acordo com os dados mais recentes compilados no portal “Our World in Data”.
Em Israel, o único país do mundo em que mais de 60% da população já recebeu pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19, depois um pico de 10.213 novos casos de infeção no dia 20 de janeiro de 2021 iniciou-se uma trajetória descendente até um ponto mínimo de 50 novos casos no dia 25 de abril.
Desde maio de 2020 que Israel não registava tão poucos novos casos de infeção. Em abril de 2020, na primeira vaga da pandemia, oscilou entre um ponto máximo de 765 novos casos a 2 de abril e um ponto mínimo de 106 novos casos a 29 de abril.
No que respeita ao número de mortes por Covid-19, a evolução recente em Israel também tem sido positiva. Depois de um pico de 101 mortes registadas no dia 20 de janeiro de 2021 (coincidindo com o pico de novos casos da terceira vaga) iniciou-se uma trajetória descendente até um ponto mínimo de apenas duas mortes no dia 25 de abril.
Desde novembro de 2020 (e início de dezembro de 2020, no que parece ter sido um período de intervalo entre a segunda e terceira vagas) que Israel não registava tão poucas mortes diárias por Covid-19. Em abril de 2020, na primeira vaga da pandemia, oscilou entre um ponto máximo de 13 mortes a 9, 13 e 18 de abril e um ponto mínimo de duas mortes a 26 de abril.
Importa salientar que no dia 20 de janeiro de 2021, quando se verificou o pico de novos casos e mortes diárias da terceira vaga, Israel ainda só tinha vacinado (com pelo menos uma dose) 28,01% da população. Apenas superou a fasquia de 40% no dia 7 de fevereiro, quando os números de novos casos e mortes diárias já estavam a decrescer.
O processo de vacinação está a contribuir decisivamente para esse decréscimo, ou trata-se sobretudo de um efeito sazonal relacionado com as variações meteorológicas?
Contraste com o vizinho Líbano mais atrasado na vacinação
Atentemos, por exemplo, no vizinho Líbano, com uma população de cerca de 6,9 milhões de habitantes (Israel tem cerca de 9,1 milhões). Presentemente, apenas 4,06% da população libanesa já recebeu pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19, numa operação que se iniciou somente em março, quando Israel já tinha mais de 50% da população vacinada.
Ora, apesar da proximidade geográfica e similitude climatérica, o facto é que a situação pandémica no Líbano permanece numa fase de números elevados desde o início de 2021. Em contraste com Israel, os números de novos casos e mortes diárias no Líbano não iniciaram uma trajetória descendente em janeiro e, chegados ao final de abril, parecem começar a decrescer mas com um ritmo muito lento.
No dia 25 de abril, o Líbano registou 1.324 novos casos de infeção e 24 mortes por Covid-19. Números bastante superiores em comparação ao período homólogo de 2020.
Ou seja, este contraste entre Israel e o Líbano parece apontar no sentido da eficácia da vacinação, independentemente do efeito sazonal e de vários outros factores que também influem na evolução da pandemia.
Vacina chinesa menos eficaz nos Emirados Árabes Unidos
Saltando para os EAU que já têm mais de 50% da população com pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19, segundo país do mundo com o processo mais adiantado (superado apenas por Israel que já ultrapassou a fasquia de 60% da população), verifica-se que o número de novos casos diários de infeção permanece elevado (1.813 no dia 25 de abril), praticamente ao mesmo nível desde o dia 15 de março (1.898 novos casos), quando já tinha mais de 40% da população vacinada.
No entanto, a evolução no número de mortes diárias tem sido positiva. Depois de um pico de 20 mortes registadas no dia 19 de fevereiro de 2021 iniciou-se uma trajetória descendente até um ponto mínimo de apenas duas mortes no dia 25 de abril.
Desde o final de dezembro de 2020 que não se registavam tão poucas mortes diárias por Covid-19 nos EAU. Em abril de 2020, na primeira vaga da pandemia, oscilou entre um ponto máximo de 9 mortes a 29 de abril e um ponto mínimo de uma morte a 6 de abril. Em maio de 2020 chegou a registar mais de uma dezena de mortes em quatro dias.
Ou seja, no caso dos EAU, o potencial efeito da vacinação não parece estar a ter impacto na evolução do número de novos casos, mas parece estar a contribuir para o decréscimo do número de mortes. O que poderá estar relacionado com o grau de eficácia das vacinas administradas.
Além das vacinas da Pfizer-BioNTech (EUA, Alemanha) e da Oxford-AstraZeneca (Reino Unido, Suécia), nos EAU também está a ser administrada em larga escala (aliás, testada e produzida localmente) a vacina da Sinopharm (China) que tem uma menor eficácia.
Pandemia sob aparente controlo no Reino Unido
No Reino Unido, o processo de vacinação também está bastante adiantado: 49,72% da população já obteve pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19. Após um pico de 67.928 novos casos de infeção no dia 8 de janeiro de 2021 (quanto apenas cerca de 3% da população estava vacinada), o mais alto desde o início da pandemia, inicou-se uma trajetória descendente até um ponto mínimo de 1.712 novos casos no dia 25 de abril.
Desde o dia 5 de setembro de 2020 que não se registavam menos de 2.000 novos casos no Reino Unido. E durante o mês de abril de 2020 oscilou entre 3.000 e 5.000 novos casos por dia, facto que parece apontar no sentido da eficácia da vacinação, independentemente do efeito sazonal e de vários outros factores.
O impacto na mortalidade é ainda mais expressivo. Após um pico de 1.823 mortes por Covid-19 no dia 20 de janeiro de 2021 (quanto apenas cerca de 7% da população estava vacinada), o mais alto desde o início da pandemia, inicou-se uma trajetória descendente até um ponto mínimo de 11 mortes no dia 25 de abril.
Desde o dia 14 de setembro de 2020 (nove mortes) que o Reino Unido não registava um número tão baixo de mortes. E o contraste com o mês de abril de 2020 (em plena primeira vaga) é bastante acentuado: oscilou entre 320 e 1.168 mortes, tendo ultrapassado a fasquia de 1.000 mortes em oito dias.
Resultados animadores nos Estados Unidos da América
Com 42,15% da população já inoculada com pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19, os números mais recentes da pandemia nos EUA parecem ser animadores.
A partir do dia 13 de fevereiro de 2021, quando 11,08% da população norte-americana já tinha recebido pelo menos uma dose de vacina, o número de novos casos de infeção estabilizou num nível inferior a 100 mil, algo que já não se verificava desde o dia 3 de novembro de 2020. Trata-se, ainda assim, de um nível superior ao verificado durante o mês de abril de 2020.
Quanto ao nível de mortalidade, após um pico absoluto de 4.490 mortes registadas no dia 12 de janeiro de 2021 iniciou-se uma trajetória descendente até um ponto mínimo de 289 mortes no dia 25 de abril.
Atente-se na comparação com o período homólogo: em abril de 2020, na primeira vaga da pandemia, o número de mortes diárias por Covid-19 nos EUA foi sempre superior a 1.000 e atingiu mesmo um primeiro pico de 2.759 mortes no dia 21 de abril.
A vacinação parece estar a resultar nos EUA, mas há que ter em conta a escala do respetivo território, com diferenças significativas entre regiões e Estados. Nesse sentido, os números globais podem ser enganadores.
A excepção do Chile que apostou na vacina da Sinovac
Desembocamos no Chile, onde 41,61% da população já recebeu pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19. Ao contrário de Israel, EAU, Reino Unido e EUA, a situação pandémica no Chile não melhorou com o avanço do processo de vacinação.
Ora, mais de 90% das vacinas administradas aos chilenos provieram da farmacêutica chinesa Sinovac, com menor eficácia, o que poderá explicar tal disparidade, além do distanciamento físico entre pessoas, variações meteorológicas, entre outros factores.
O número de novos casos detectados de infeção por Covid-19 permanece em nível elevado, entre 4.158 e 7.582 nos últimos dias, muito acima do que se verificou no mesmo período de 2020. O mesmo se aplica ao número de mortes, entre 45 e 179 nos últimos dias.
Importa salientar que o Chile só alcançou a fasquia de 30% da população com pelo menos uma dose de vacina no dia 22 de março. Ou seja, começou a vacinar mais tarde (início de fevereiro) e está mais atrasado do que Israel, EAU e Reino Unido. No entanto, o facto é que os números de novos casos e mortes diárias continuaram a aumentar e permanecem num nível elevado, apesar da elevada percentagem da população entretanto já inoculada com pelo menos uma dose de vacina.