A pergunta é a mesma que se impõe desde que a pandemia entrou em Portugal: Quando vai ser possível o tão desejado regresso à normalidade? Especialistas ouvidos pelo ‘Público’ dizem que isso pode acontecer em setembro, ou talvez até já em agosto.
Segundo a mesma publicação, na visão dos peritos a curva dos contágios, dos internamentos e dos óbitos vai começar a descer já no início do próximo mês, tornando dispensáveis muitas das restrições em vigor.
Para Milton Severo, epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), “já podíamos estar com uma vida muito mais normal e próxima da que tínhamos antes”.
O especialista considera que descontadas medidas como o uso de máscara, a higienização das mãos e a fuga às aglomerações, “as restantes restrições já não fazem sentido”, sobretudo porque “a vacinação em função da idade conseguiu proteger os que correm risco de ter doença grave” e a pandemia já não ameaça sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Também Tiago Correia, sociólogo e professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, concorda que a circulação do vírus não deverá voltar a comprometer a resposta do SNS.
Segundo o responsável, “nas próximas semanas”, e numa altura em que quase 43% da população já têm o esquema vacinal completo, “o Governo vai ter de rever os protocolos de isolamento e de testagem para as pessoas vacinadas”, permitindo-lhes relaxar nas medidas e regressar ao normal.
Já Henrique Oliveira, matemático e professor do Instituto Superior Técnico, defende que a ordem deveria ser para o regresso a uma vida o mais normal possível, sempre ressalvando a importância do controlo sanitário das fronteiras.
“Agosto é um mês quente, em que não se formam aerossóis com tanta facilidade no ar, as crianças não estão nas escolas a contagiar-se assintomaticamente e os transportes públicos andam muito menos lotados”, justifica, para sustentar que a prioridade deveria estar a ser agora retirar sectores como o turismo, a restauração e a cultura da crise.
Os três concordam que a vacinação é a melhor arma para o tão esperado regresso à normalidade, e se o Governo não mostrar isso, estará a passar uma mensagem contraditória relativamente à vacinação.
“Os decisores dizem que a vacinação é boa, mas depois continuam a dizer que a situação é dramática e difícil e que temos de manter, todos, as mesmas cautelas. Ora, isto passa a mensagem de que não vale a pena as pessoas vacinarem-se”, critica Tiago Correia. “A vacinação serve precisamente para que possamos voltar ao normal”, reforça Milton Severo.
Henrique Oliveira diz mesmo que se não fosse a vacina, “estaríamos hoje com à volta de oitenta mortes por dia e 500 internados nos cuidados intensivos”. Era o cenário em Janeiro, altura em que a média andava também nos quatro mil novos casos por dia, acrescenta.