A imunidade de grupo, a tão almejada meta traçada pela comunidade científica e pelos vários governos no âmbito da pandemia, parece hoje mais distante, ou talvez inatingível, segundo o El País.
Dado que as novas variantes do vírus são cada vez mais infeciosas, a percentagem de 70% da população imunizada inicialmente avançada parece já não chegar e os cientistas traçam agora novas metas.
Apesar de não se saber com exatidão qual pode ser o novo número, os especialistas falam em cerca de 90%, uma percentagem que não pode ser alcançada sem vacinar crianças menores de 12 anos, para as quais ainda não existe um medicamento aprovado.
A ideia da proteção coletiva não é apenas teórica, tendo sido responsável, ao longo da história, por manter sob controlo doenças como o sarampo e a difteria, tendo inclusive possibilitado eliminar a varíola.
Este estado de proteção da população baseia-se no facto de que, quando um número suficiente da população é imune a um vírus, essa partícula fica sem a capacidade de se propagar. Se uma pessoa fica infetada, mas a grande maioria das pessoas ao seu redor não é suscetível de ser infetada, não será capaz de passar para outro organismo, desaparecendo no paciente.
Contudo, a percentagem da população necessária para atingir a imunidade de grupo depende da capacidade infeciosa do vírus. No caso do SARS-CoV-2, a variante delta é a mais contagiosa até hoje.
De acordo com um relatório do Centro de Controlo de Doenças dos Estados Unidos, ao qual o The Washington Post teve acesso, cada pessoa pode infetar outras nove, três a quatro vezes mais do que foi inicialmente estimado, o que a torna tão contagiosa como a varicela. Em paralelo a essa maior capacidade de transmissão, aumentam as estimativas, sempre aproximadas, da percentagem de população vacinada necessária para atingir a imunidade coletiva.
No entender do epidemiologista Javier del Águila, a ideia de imunidade de grupo “não parece muito realista no contexto atual”: “Muitos epidemiologistas no mundo lidam com o assunto há alguns meses. Vem de doenças mais clássicas, como o sarampo ou a varíola. A Covid-19 é muito diferente, sendo um vírus respiratório com transmissibilidade tão alta, com vários problemas associados: seriam necessárias taxas de cobertura próximas a 95%. Isso é algo muito difícil, mesmo em países como Portugal, onde a relutância em vacinar é muito baixa”.