Numa altura em que os planos de vacinação, em Portugal, na Europa e no mundo, correm a bom ritmo razoável, importa recordar algumas questões comuns de muitos cidadãos que já receberam ou ainda vão receber a vacina contra a Covid-19.
Depois de ser imunizado tenho de manter todas as regras? Já tive a doença, tenho de levar a vacina na mesma? A vacina oferece proteção contra novas variantes? A resposta a estas e outras questões, para ler de seguida.
1. Depois de ser vacinado tenho de continuar a usar máscara e a manter a distância?
Mesmo depois de tomar as duas doses da vacina (a imunização completa), a pessoa vacinada deve continuar a cumprir todas as regras básicas, nomeadamente, manter o uso de máscaras, evitar ajuntamentos e manter a higienização das mãos.
Ainda não está comprovado cientificamente que as vacinas consigam interromper a transmissão do vírus, e por isso é necessário manter todos os cuidados. “As vacinas que temos disponíveis não comprovaram serem eficazes contra a transmissão da doença. São eficazes para evitar que a doença progrida para casos graves”, explicou a vice-diretora da Organização Mundial da Saúde, Maria Ângela Simão.
2. Posso ter encontros sem máscara com mais pessoas se estivermos todos vacinados?
Em Portugal ainda não está definida nenhuma orientação nesse sentido. Contudo, o Centro Europeu de Doenças já referiu que essas regras, tal como a distancia social, podem ser aliviadas para quem estiver totalmente imunizado contra a Covid-19.
“À medida que a vacinação avança, é encorajador ter recomendações baseadas em provas de que a imunização pode, lentamente, permitir o relaxamento das intervenções não-farmacêuticas [medidas restritivas], tais como o uso de máscaras e o distanciamento físico”, assinala a diretora do ECDC, Andrea Ammon. Ainda assim há especialistas que não concordam com a medida.
3. Já tive coronavírus, ainda tenho de tomar a vacina?
Sim. Especialistas dizem, citando dados científicos, que a vacina deve ser aplicada em quem já teve a doença. A vacina pode oferecer uma imunidade mais duradoura e trazer mais benefícios em relação à nossa imunidade natural.
Em fevereiro, a OMS divulgou novas diretrizes sobre a vacinação para quem teve ou tem Covid-19 No documento, a entidade reforçou que pessoas com teste positivo para o vírus devem esperar recuperar-se da “fase aguda da doença”, aguardando também “a suspensão do isolamento”.
Para além disso, quem estiver infetado pode adiar a vacinação por seis meses. A entidade ressalvou ainda que, quando mais dados estiverem disponíveis sobre a duração da imunidade depois da infeção natural, a duração do adiamento pode ser revista.
4. Quem já foi vacinado está protegido contra as novas variantes?
As fabricantes de vacinas continuam a avaliar o comportamento dos imunizantes contra as novas variantes que têm surgido. Estudos apontam que a vacina de Oxford é eficaz contra as variantes brasileira e britânica.
A Pfizer anunciou que a vacina que desenvolveu contra a Covid-19 conseguiu evitar todos os casos sintomáticos da doença causados pela variante sul-africana do coronavírus, a B.1.351. O imunizante também se mostrou eficaz contra as variantes do Reino Unido e Brasil.
A vacina da Moderna conseguiu combater variantes da África do Sul e do Reino Unido; mesmo assim, uma terceira dose da vacina será testada como reforço contra as variantes, e, ainda, uma nova candidata para dose de reforço. A Johnson também anunciou que a sua vacina mostrou ter 57% de eficácia contra a variante da África do Sul, um dos países onde foi testada.
5. Após tomar a vacina, fico logo imunizado?
Mesmo após as duas doses da vacina, o nosso organismo não gera uma resposta imune imediata, explica o infeciologista José Geraldo Leite Ribeiro, vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), citado pelo jornal ‘O Globo’.
“A proteção dá-se um tempo após a aplicação da segunda dose, e esse tempo varia de acordo com cada vacina. Na maioria delas, a imunidade acontece a partir de dez ou vinte dias após a segunda dose”, esclarece o mesmo responsável. “Se uma pessoa que tomou a vacina se infectar antes desse tempo, não quer dizer que a vacina falhou, mas que não deu tempo para o sistema imunológico criar a resposta imune”, acrescenta.
6. Quanto tempo dura a proteção da vacina?
O imunologista Luís Graça afirma que “é expectável” que a vacinação contra a covid-19 confira proteção durante pelo menos um ano, mas observou que é necessário tempo para se ver como evolui a imunidade das pessoas vacinadas.
“Como as pessoas que tiveram covid-19 têm, na sua maioria, um estado de imunidade que dura pelo menos sete ou oito meses, é expectável que a vacinação confira imunidade por um período de pelo menos um ano”, referiu, em declarações à Lusa, realçando que “as pessoas vacinadas produzem uma maior quantidade de anticorpos contra o vírus do que as pessoas que tiveram covid-19”.
7. Ainda posso contrair/transmitir o vírus se estiver vacinado?
É possível, sim. As vacinas disponíveis são eficazes na prevenção da forma grave da Covid-19, mas ainda não se sabe se protegem contra a transmissão. Mesmo que a pessoa vacinada não adoeça, ainda pode ser infetada sem apresentar sintomas e contaminar outros indivíduos.
As empresas responsáveis pelas vacinas continuam a fazer testes para analisar a eficácia na prevenção da doença. Um estudo publicado em fevereiro, por exemplo, diz que a vacina de Oxford pode ter capacidade de reduzir em até 67,6% a transmissão do novo coronavírus. Um outro estudo, feito com a vacina da Pfizer/BioNTech, concluiu que o imunizante reduziu em 75% a transmissão do coronavírus menos de um mês após a aplicação da primeira dose.