O primeiro-ministro, António Costa, convocou para esta sexta-feira a reunião entre peritos e responsáveis políticos no Infarmed, em Lisboa, avança a ‘Renascença’.
A reunião está prevista para as 15:00, tendo a participação pela parte política do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e de membros de partidos com representação parlamentar.
Tal como já tinha sido referido pela imprensa esta segunda-feira, o encontro vai servir para avaliar a situação pandémica e preparar o país para a época natalícia, sendo a principal principal missão desta reunião “salvar” o Natal.
O Governo está atento ao aumento de casos de covid-19 em Portugal e preocupado com o facto de a terceira dose da vacina não estar a avançar ao ritmo desejável, o que pode obrigar a “uma campanha de sensibilização mais alargada”.
Neste sentido, a reunião visa analisar os últimos avanços da pandemia e preparar o Natal, que é “um período sempre complicado”. Para além disso, este próximo encontro deve também servir para entender as dinâmicas do turismo, com o objetivo de perceber se a abertura representa, ou não, um perigo para a situação pandémica portuguesa.
A última reunião no Infarmed, em Lisboa, realizou-se no passado dia 16 de setembro, numa conjuntura em que Portugal registava progressos acentuados na evolução da taxa de vacinação, uma redução da incidência e do índice de transmissão (Rt) da covid-19.
Agora, o encontro acontece numa altura em que o número de casos diários de covid-19 está a subir, já desde o início de novembro, com vários especialistas a dizer que Portugal já entrou numa quinta vaga.
Os peritos pedem por isso que o processo de vacinação seja mais rápido, sob pena de terem de voltar a ser aplicadas restrições, voltando atrás no desconfinamento, hipótese que pode ser decidida precisamente no encontro de sexta-feira.
Portugal pode ultrapassar os 3000 novos casos no Natal
Manuel Carmo Gomes, epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), estima à Multinews que “se tudo se mantiver como nos últimos dias (valor do Rt em torno de 1,1), iremos duplicar de 1100 casos por dia (número de 8 de novembro) para o dobro, em aproximadamente um mês”.
“Ou seja, na primeira metade de Dezembro ultrapassamos os 2000 casos”, estima. “Se o Rt se mantiver na zona de 1,1, vamos chegar ao Natal com 3000 casos, ou mais”, acrescenta, sublinhando, contudo, que “o que mais preocupa não é o número absoluto de novos casos”, mas sim “o número de casos que são graves”.
Já para Gustavo Tato Borges, d Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, as previsões de “entre 2000 a 2500 casos diários no início de dezembro, são valores demasiado elevados e se as condições se mantiverem, poderemos ver um crescimento semelhante ao do ano passado”, indica à Multinews.
“A única diferença poderá ser uma menor mortalidade, mas o SNS ficará novamente sobrecarregado, incapaz de assistir aos doentes não-Covid, o que será dramático”, prevê.
Especialistas defendem vacinação, testes rápidos e ventilação
Para Carmo Gomes, “a variante Delta é tão contagiosa que o descontrolo só se evita com a combinação de duas coisas: Primeiro, elevada cobertura vacinal assegurando que, com o passar do tempo, não são gerados ‘buracos’ na imunidade da população; segundo, manter as medidas básicas”, como “máscaras em todos os espaços fechados, distanciamento físico e higienização de mãos e superfícies”.
Para além disso, “existe uma arma poderosa que já temos este natal e que eu recomendaria para todos na época festiva: testes rápidos” que podem ser usados “na véspera do dia em que vamos estar com os familiares que não convivem habitualmente connosco. Se todos testarmos negativo, temos maior segurança para dar abraços e conviver durante horas”, defende.
Bernardo Gomes, professor na Faculdade de Medicina e no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), refere que outra das soluções passa por “escolher sítios mais amplos e com boa ventilação para os almoços e jantares de Natal”, bem como “preferir algum controlo do número de pessoas”.
Já Tato Borges fala em minimizar os contactos sociais, vacinar-se e arejar espaços físicos”, recomendando também que sejam “minimizados encontros sociais alargados e que “não se menosprezem sintomas. “Um pouco de esforço nas próximas semanas poderá criar condições ideais para termos uma época festiva com maior segurança”, conclui.
Ministra apelou à vacinação
Em Penafiel, na sexta-feira passada, a ministra das Saúde, Marta Temido, apelou à toma da terceira dose da vacina para os maiores de 65 anos e admitiu que “todos os cenários” estão em aberto face a uma eventual quinta vaga da pandemia de covid-19.
“Os cenários têm de estar todos em aberto. Não o desejamos. Desejamos que não tenhamos de ter essa conversa [novos confinamentos], desejamos que numa próxima reunião de peritos possamos ter informação que evidencie que estamos a conseguir controlar a situação”, afirmou.
Sobre a nova fase da vacinação, Marta Temido admitiu que haverá “momentos de constrangimento no acesso”, sublinhando que o país vai ter “casa aberta novamente e autoatendimentos locais”.
“Para a semana vamos ter muita pressão, como já tivemos no passado. É natural que se formem algumas filas, procuraremos melhorar as condições de espera para as pessoas e provavelmente não vai correr tudo bem”, reforçou.
Questionada se o país está preparado para responder à quinta vaga, respondeu: “Estamos a assistir à situação da Europa, onde países muito robustos estão debaixo de uma quinta vaga muito evidente. É o caso da Alemanha. Nós temos de fazer a nossa parte, estamos preparados para responder o melhor possível”.
“Está tudo nas nossas mãos, se não formos surpreendidos por mais uma variante. Se fizermos tudo ao nosso alcance, estaremos seguramente mais protegidos”, acrescentou.
