Um estudo do National Institute of Health indica que 30% das pessoas que tiveram a doença sofreram algum tipo de sintomas neurológicos ou psiquiátricos que podem durar até tempo indeterminado.
Problemas de atenção, perdas de memória e cansaço extremo são alguns dos sintomas sentidos por alguns pacientes que contraíram Covid-19. Os possíveis impactos da doença no cérebro são variados e um estudo do National Institute of Health indica que 30% das pessoas que foram infetadas sofreram algum tipo de sintomas neurológicos ou psiquiátricos que podem durar até tempo indeterminado.
A americana Hannah Davis, contactada pela “National Geographic”, contraiu Covid-19 em março de 2020, data que coincidiu com os primeiros dias da pandemia em Portugal. Na época, era uma artista e cientista de dados freelance saudável de 32 anos. Mas, ao contrário de muitas pessoas que contraem a doença, o primeiro sinal de infeção de Hannah Davis não foi tosse seca ou febre, mas sim não conseguir ler uma mensagem de texto de um amigo. Hannah Davis pensou que estava apenas cansada, mas a confusão que sentiu não foi embora depois de uma noite inteira de sono.
Depois, Hannah desenvolveu dores de cabeça súbitas e intensas e a sua capacidade de atenção diminuiu. Não conseguia assistir televisão ou jogar. A artista e cientista tinha dificuldade em concentrar-se nas tarefas diárias, como cozinhar: deixava uma panela no fogão e esquecia-se até sentir o cheiro de comida queimada.
Um ano e meio depois, Davis só consegue trabalhar algumas horas por dia, tem perda de memória de curto prazo e outros problemas cognitivos. “Nunca passei por algo parecido em minha vida”, contou Hannah Davis, acrescentando que “parece que o corpo está a quebrar”.
No ano passado, dezenas de hospitais e sistemas de saúde em todo o país abriram clínicas pós-Covid para ajudar pacientes que tinham sido internados em unidades de terapia intensiva com doença grave. Mas à medida que a pandemia se arrasta, essas clínicas enchem-se de pessoas que nunca foram hospitalizadas, mas sofrem sintomas persistentes, incluindo problemas cognitivos.
Para Walter Koroshetz, um dos responsáveis pelo estudo, são cada vez mais evidentes os problemas cognitivos associados à Covid-19, mas ainda não é possível saber quantas pessoas eventualmente vão recuperar e quantas vão continuar com efeitos a longo prazo.
Outro estudo realizado no Reino Unido obteve as mesmas conclusões. Em janeiro de 2020, o Imperial College London em conjunto com a “BBC”, lançou um estudo para avaliar capacidade cognitiva e com a chegada do SARS-CoV-2 foi preciso atualizá-lo para incluir perguntas sobre o vírus.
Dos mais de 81 mil participantes que responderam ao questionário entre janeiro e dezembro de 2020, quase 13 mil pessoas relataram infeções por Covid-19 e indicaram problemas cognitivos em comparação com um grupo que não sofria da doença. “As pessoas que foram para o hospital e foram colocadas num ventilador apresentaram um desemprenho cognitivo baixo”, sublinhou um dos responsáveis pelo estudo Adam Hampshire.