O ex-presidente da República tinha 81 anos e estava internado no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, desde a passada sexta-feira, na sequência de dificuldades respiratórias.
Jorge Sampaio teve um papel de destaque na luta pelos valores democráticos desde a luta nos movimentos de contestação estudantil, no início dos anos 60, foi uma figura marcante na história da Revolução e como político é muitas vezes referido como um grande humanista, por ter liderado instituições e movimentos que se batiam pelos direitos humanos e união de povos, chegando a ser o Alto Representante para a Aliança das Civilizações da ONU.
Ainda em criança e para acompanhar a carreira do pai, médico especialista em Saúde Pública, Jorge Sampaio passou longas temporadas nos EUA e em Inglaterra, segundo a biografia do seu website. Por cá, fez o ensino secundário entre o liceu Pedro Nunes e o Passos Manuel, mas foi no ensino universitário que a carreira mais ligada à vida pública começou a crescer.
Estudou Direito na Universidade de Lisboa e foi presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito, sendo uma das caras da contestação estudantil. Entretanto, como advogado, construiu uma carreira de sucesso, defendeu vários presos políticos e ocupou também funções diretivas na Ordem dos Advogados.
Na luta pelos valores da liberdade, candidatou-se em 1969 às eleições para a Assembleia Nacional, que não ganhou tal como todos os que se opunham ao regime, e fez parte de vários movimentos de resistência.
Após a Revolução, faz parte dos criadores do Movimento Esquerda Socialista (MES) e em março de 1975 é nomeado Secretário de Estado da Cooperação Externa, no IV Governo Provisório. Em 2019, na celebração dos seus 80 anos, destacou o 25 de Abril de 1974 como um dos momentos mais marcantes da sua vida.
Em 1978, adere ao Partido Socialista e um ano depois é eleito deputado à Assembleia da República. Foi reeleito em 1980, 1985, 1987 e 1991. Os 80 anos de vida —”este ocaso magnífico”, nas palavras do ex-presidente — foram celebrados no Largo do Rato, sede do PS, e nesta ocasião António Costa apelidou Jorge Sampaio de “homem tranquilo, fleumático, britânico” e que foi capaz de “decisões de rutura que tomou num determinado momento e que marcaram a sua vida”.
Os direitos humanos marcam a carreira de Jorge Sampaio e desde 1979 até 1984 foi membro da Comissão Europeia dos Direitos do Homem no Conselho da Europa.
Foi presidente da Câmara de Lisboa por dois mandatos consecutivos de 1989 a 1996, altura em que se candidatou à Presidência da República. Com uma intensa vida pública e política e com o apoio de várias personalidades, foi eleito à primeira volta a 14 de janeiro de 1996 e reeleito também à primeira volta no mesmo dia de 2001.
Durante o duplo mandato como presidente da República, acompanhou o referendo para a independência de Timor-Leste e a transferência de soberania de Macau para a China.
Escreveu para vários jornais e revistas e publicou vários livros em que expõe o seu pensamento político e em 2006 tomou posse como Conselheiro de Estado. No mesmo ano foi ainda designado Enviado Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Luta contra a Tuberculose e, em abril de 2007, foi nomeado, pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, Alto Representante para a Aliança das Civilizações.
É Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e da Ordem da Liberdade e, Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, contando ainda com várias condecorações estrangeiras. Entre outras distinções, recebeu em 2010 o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa.
Em 2013, fundou a Plataforma Global para os Estudantes Sírios, à qual presidia, para dar resposta à emergência relativa à educação académica criada pela guerra na Síria.
Ainda no final de agosto, a propósito do conflito no Afeganistão e na situação vulnerável que foram deixadas muitas estudantes, o antigo Presidente da República tinha anunciado que está a ser preparado “um programa de emergência de bolsas de estudo e de oportunidades académicas para jovens afegãs”, apelando ainda às instituições que apoiam a Plataforma um reforço a esta situação de emergência.
No seguimento deste apelo relativo ao Afeganistão, Jorge Sampaio relembrou a crise no Iémen, no Haiti, no Tigray, no Sudão, no Sudão do Sul, na Somália, em Cabo Delgado e aproveitou a ocasião para “recordar que a solidariedade não é facultativa, mas um dever que resulta do primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos — ‘Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade'”.
Jorge Sampaio era casado com Maria José Ritta e tem dois filhos, Vera e André.
fonte: https://www.sapo.pt/noticias/atualidade/artigos/morreu-jorge-sampaio