O Governo reúne-se esta quinta-feira, dia 23 de setembro, para decidir em Conselho de Ministros, como vai decorrer a terceira e última etapa do desconfinamento.
Isto acontece porque Portugal está próximo de ter 85% da população vacinada contra a Covid-19, atingindo assim a meta estabelecida inicialmente pelo Governo para avançar com o desconfinamento.
Segundo o relatório de vacinação divulgado na terça-feira, cerca de 83% da população portuguesa já tem as duas doses da vacina, o que significa que já só falta 2% para alcançar o objetivo.
Recorde-se que nesta última etapa, os restaurantes, cafés e pastelarias podem funcionar sem limite máximo de pessoas por grupo, quer no interior quer em esplanadas; estabelecimentos, espetáculos culturais e eventos (como casamentos e batizados) deixam de ter limites de lotação e bares e discotecas reabrem atividade habitual (com certificado ou teste negativo).
Alívio de medidas deve acontecer a 1 de outubro
A terceira e última etapa do plano de desconfinamento deve entrar em vigor já no próximo dia 1 de outubro, altura em que serão aliviadas as últimas restrições ainda existentes em eventos e estabelecimentos.
Segundo avançou ontem o ‘Correio da Manhã’ (CM), o Governo deve decidir hoje que nesse dia vão acabar os limites de lotação em restaurantes, cafés e pastelarias, quer no interior quer nas esplanadas, bem como em eventos, nomeadamente casamentos e batizados.
Para além disso, também as discotecas – encerradas há mais de um ano – vão poder abrir portas sem restrições de lotação, à semelhança dos bares (que já estão em funcionamento mas com restrições).
Ainda assim, importa ressalvar que nas duas situações será sempre necessário apresentar o certificado digital Covid ou um teste negativo, de forma a ter acesso a estes espaços.
Para além do alcance da meta 85% de vacinados, o facto de as eleições autárquicas acontecerem no próximo domingo, também contribui para que o dia 1 de outubro seja a data escolhida para a entrada em vigor do desconfinamento (e não mais cedo), de forma a salvaguardar a segurança sanitária no ato eleitoral.
Discotecas alertam para ajuntamentos sem controlo de jovens
A Associação Nacional de Discotecas mostrou-se expectante com a decisão que poderá sair hoje do Conselho de Ministros em relação à reabertura do setor, alertando que os ajuntamentos de jovens, sem qualquer tipo de controlo, podem espalhar o vírus.
Em declarações à agência Lusa, José Gouveia, da Associação Nacional de Discotecas (ADN), explicou que o último contacto que teve com o Governo foi há cerca de duas semanas e, ainda assim “foi informal”, para perceber “os intentos e saber estratégia para o futuro”.
“Estamos com alguma expectativa, já que nos foi dito que não haveria antecipação das medidas e que as discotecas só reabririam na fase 3 do plano de desconfinamento, em outubro, independentemente de a vacinação atingir os números que se prevê atingir esta semana”, disse.
O responsável alertou ainda para a possibilidade do crescimento de “uma economia paralela” que se tem vindo a sentir, a partir do momento em que as festas ilegais “não têm qualquer tipo de controlo”, especialmente “com as bebidas a ser compradas num qualquer fornecedor ou supermercado e depois vendidas sobrevalorizadas e sem qualquer tipo de controlo”.
“A ADN vê isto com muita preocupação e não entendo porque é que até agora não foi dada a oportunidade às discotecas de demonstrarem que conseguem: transformar aquilo que é uma discoteca a céu aberto, totalmente descontrolada, para um ambiente controlado, onde há um rastreio, onde as pessoas têm um controlo por certificados, etc, etc.”, lamentou.
Especialistas defendem “responsabilização” em vez de obrigação
A opinião dos peritos é que as medidas gerais podem deixar de ser obrigatórias e passar a recomendadas na generalidade das situações, à exceção dos lares de idosos e transportes públicos.
Raquel Duarte, médica pneumologista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, apresentou, na semana passada, uma proposta assente “passagem da obrigatoriedade para uma responsabilização individual e organizacional”, tendo em conta “o contexto de 85% de vacinação completa”.
A proposta tem por base três indicadores: valores de incidência da infeção; tendência e taxa de hospitalização e assenta “na manutenção ou melhoria destes indicadores”, sublinhou Raquel Duarte.
A responsável reforçou a necessidade de controlo de fronteiras, acrescentando que o certificado digital deve ser usado como uma garantia adicional de segurança. “É preciso que este certificado seja fácil e continue a ser gratuito”, acrescentou.
Raquel Duarte recomendou também a promoção da testagem voluntária e gratuita e disse que é preciso continuar a vacinar, a monitorizar as variantes em circulação, bem como continuar a usar máscara (em determinadas situações) e garantir a ventilação dos espaços fechados.
Pandemia perto de estar “controlada”
O primeiro-ministro, António Costa, voltou a mostrar-se otimista em relação à evolução da pandemia em Portugal, mas ao mesmo tempo cauteloso.
O responsável quis deixar “uma palavra de agradecimento, agora que estamos a chegar à fase em que, graças à vacinação, podemos começar a encarar a pandemia como estando controlada”, disse na semana passada.
Apesar do otimismo, o primeiro-ministro deixou um aviso: “Hoje não é só o primeiro dia do resto das nossas vidas”, porque “as nossas vidas vão ter de continuar a ser diferentes. Nós vamos continuar a ter as medidas de segurança para evitar que a pandemia se descontrole e temos, sobretudo, de fazer um esforço acrescido para que uma das marcas que a Covid deixou não perdure na nossa sociedade”, ressalvou.
“Todos tivemos consciência de que a interrupção do ensino presencial aumentou as desigualdades e perturbou o desenvolvimento normal das crianças e o processo de aprendizagem normal”, disse Costa. “Essa é uma marca que não pode ficar para a vida e que temos de conseguir ultrapassar ao longo dos próximos dois anos letivos”, concluiu.